Atleta supera AVC e vence Copa América de Jiu-Jítsu: “Continuarei lutando”
(Foto: Divulgação)
Campeão do World Pro, campeão sul-americano e vice-campeão brasileiro de jiu-jítsu. Estas são algumas das principais conquistas do lutador amazonense Ronaldo Silva, mais conhecido como Ronaldinho. Com apenas 20 anos de idade, o atleta precisou ser campeão fora dos tatames antes de voltar a conquistar um campeonato na modalidade. Há um ano e cinco meses, Ronaldinho sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), enquanto fazia um treinamento em São Paulo, e precisou passar por uma longa recuperação. No último final de semana, mesmo com os movimentos do lado esquerdo do corpo limitados, ele sagrou-se campeão da Copa América de Jiu-jítsu Esportivo, disputada em Manaus.
O AVC
Em maio de 2019, após lutar o Campeonato Brasileiro e tirar um período para descansar no Guarujá, litoral de São Paulo, Ronaldinho retornou à capital paulista e voltou aos treinamentos. Em um deles, o atleta percebeu que alguma coisa estranha estava acontecendo.
“Na segunda-feira acordei super bem, fiz meu treino, inclusive acho que foi o melhor que eu fiz. Às nove e meia da noite, fui fazer um treino de pegar barra, com kimono, e senti uma fraqueza no braço esquerdo. Meu braço soltou da lapela do kimono, e eu caí. Comecei a andar para ficar no banco, mas meus amigos observaram que eu estava andando diferente, sendo que para mim estava tudo bem. Eles perguntaram se estava tudo certo e eu respondi que sim, mas eles notaram que meu rosto do lado esquerdo estava torto, minha boca, minha sobrancelha. Como eu achava que estava tudo bem, meus amigos queriam me levar para o hospital e eu não queria ir, mas fomos”, contou o lutador, durante o programa Esporte Fight desta quarta-feira.
Após o ocorrido, Ronaldinho logo foi levado pelos amigos ao hospital, onde o médico que o atendeu disse se tratar de um AVC, e encaminhou o atleta para sala de cirurgia, onde foi aplicado um remédio para desfazer o coágulo de sangue que havia causado o problema. Após a aplicação da medicação, Ronaldinho acordou, mas ainda sem ter noção da gravidade da situação, mesmo com a presença da mãe, que foi às pressas para a capital paulista.
“Eu falei para os meus amigos que não precisava ligar para minha mãe. Não tinha noção da gravidade. E aí quando ela chegou, me viu na maca, me abraçou e começamos a chorar juntos e ela começou a me falar o que estava acontecendo, e aí que fui entender. Mas até mesmo quando ela falou pra mim, eu achava que aquilo não era nada, só queria saber de sair do hospital e voltar aos treinos”, contou.
A ficha do jovem lutador só foi cair quando, ao sair do hospital, percebeu que estava com os movimentos dos membros limitados. O atleta conta ainda que ficou frustrado, pois estava prestes a disputar uma competição importante da modalidade.
“Acho que no dia que eu recebi alta do hospital, que vi que o negócio era sério, porque eu não pude sair andando, saí de cadeira de rodas, porque eu não conseguia mexer nem minhas pernas nem meus braços. E tudo isso aconteceu na época que eu iria tirar meu visto para poder participar do campeonato mundial. Eu fiquei triste porque era um evento que muitos atletas querem competir, e eu também queria muito estar lá, porque eu queria ser campeão mundial, mas ainda tenho muita coisa para conquistar”, relatou Ronaldinho.
A volta aos treinos e às competições
O lutador conta que, devido às limitações nos movimentos do lado esquerdo do corpo, quando voltou a treinar, montou outras estratégias de luta, contando com o apoio tanto de seus mestres, quanto de sua família.
“Pensei em adaptar um jogo diferente para mim, porque o que eu fazia não tinha mais como fazer. Meus mestres sempre me deram forças para voltar a treinar, sempre quiseram me ter por perto, treinando com eles e isso foi mais um incentivo para mim. Sempre me ajudaram, sempre me incentivaram, nunca me colocaram pra baixo, sempre me jogaram pra cima. Minha família também, como sempre, esteve ao meu lado e me apoiou bastante”, afirmou.
A longa recuperação e os treinos adaptados somados à força de vontade de Ronaldinho, trouxeram uma recompensa muito boa ao atleta. Após mais de um ano e cinco meses do acidente, no dia 11 de outubro deste ano, Ronaldinho foi campeão da Copa América de Jiu-jítsu Esportivo e ainda foi graduado à faixa marrom da modalidade. Após o título, o atleta comentou sobre o processo de recuperação e a sensação de voltar a competir.
“O começo foi difícil, mas estou conseguindo superar aos poucos. Tudo que aconteceu, me motivou bastante para continuar lutando por tudo que eu sempre lutei, que é o jiu-jitsu, que eu amo e também dar uma condição melhor para minha família. Lutar aqui em Manaus é muito legal, porque o pessoal tem um carinho enorme por mim, então eu fico feliz de lutar novamente aqui. A recuperação continua, até ficar 100%, mas independente de qualquer coisa, continuarei lutando”, declarou o campeão.
Mentalidade forte e plano de lutar em outra modalidade
Ronaldinho conta ainda que segue com o mesmo sonho que tinha antes do acidente e com uma mentalidade forte. O atleta ainda revela que tem planos de se arriscar em outra modalidade de luta esportiva.
“Eu luto por um sonho. Luto para ser campeão mundial. Minha mente é nunca me abalar com nada. Sempre fui feliz em qualquer situação. A cabeça que tenho agora é a mesma de antigamente, nada mudou. Eu tenho planos para quando me recuperar. Quero continuar no jiu-jítsu, mas quero tentar competir no MMA também”, revelou.
História
Nascido em Tabatinga (cidade a 1106 quilômetros de Manaus), Ronaldo da Silva, o Ronaldinho, conheceu o jiu-jítsu ainda aos 12 anos, quando já morava na capital amazonense, através dos filhos dos primeiros professores – Angélica e Wallace – que tinham uma academia na garagem de casa. Após um mês de treino, ainda adolescente, participou da primeira competição e já conseguiu ser campeão
Ronaldinho então continuou treinando e acabou perdendo a segunda competição, mas não se deixou abalar. O lutador passou cinco anos na primeira academia até migrar para o time do mestre Nabil, onde recebeu uma oportunidade de ir para São Paulo competir e treinar lá. Na capital paulista, o atleta passou três meses e conseguiu ser campeão na maioria das competições que participou.
Floripa Open, o World Pro, onde o amazonense foi campeão lutando na cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, hoje fazem parte de seu currículo. O atleta ainda foi vice-campeão brasileiro, em uma luta que ele afirma ter sido definida por um erro dele próprio, nos segundos finais do combate.