Ouvi rumores de que a imprensa do Velho Mundo está tentando comparar Cristiano Ronaldo com Pelé. Eu pergunto: esses cronistas sabem a história do Pelé? Conhecem todas as conquistas que ele teve, que inebriaram o futebol mundial? A imprensa francesa foi muito feliz quando elegeu Pelé como a figura máxima do futebol. Após a copa do mundo de 58, os franceses não se furtaram aos elogios ao nosso menino de ouro com a manchete nos jornais: “Pelé, le roi du football”. A partir daí, começou o reinado. Ora, se a própria Europa se curvou aos pés do gênio, que fez um estrago nas defesas adversárias da Jules Rimet, por que esses mesmos europeus tentam nivelar Cristiano Ronaldo ao Pelé?
Os europeus têm que reconhecer que são bons no planejamento, disciplina e organização, mas a escola do futebol do mundo é a brasileira, e são esses mesmos craques que se espraiam pelo mundo inteiro. Temos jogadores do Brasil na Itália, na França, em Portugal, na Alemanha, na Espanha, no Egito, enfim, em diversos países. Esquecem alguns cronistas europeus que os brasileiros que integram o futebol da Europa são muito cobiçados e produzem muito lucro financeiro aos seus clubes.
Giuseppe Cacace/AFP
Vejo Cristiano Ronaldo como um bom jogador e até o admiro, mas ele se destaca pelo profissionalismo, não é um jogador capaz de executar dribles na direção do gol. Tem um porte físico bom e uma velocidade que explora para facilitar as penetrações na grande área. Ele corre muito para se deslocar com o bom preparo físico que tem. É um artilheiro de sucesso, mas não é mestre na cabeçada. Pelé não corria, jogava na marcha lenta, cadenciado, com passes certeiros, dribles sensacionais e improvisações. Chutava com os dois pés e tinha uma cabeçada perfeita.
Cristiano Ronaldo pode até ultrapassar os gols do Pelé, mas nunca será o rei. Esse rei parou guerra na África do Sul. Na época, o país queria ver Pelé jogar e ele disse que iria, mas que o bombardeio precisava parar por uma semana. De fato, o bombardeio parou por uma semana. Santos foi lá, jogou e até hoje é aplaudido por esse respeito do povo africano com a presença do Pelé. Eu perguntaria: os europeus conhecem aquele jogo que o Pelé foi expulso na Argentina e a torcida se rebelou contra o árbitro, o expulsou e fez o Pelé voltar?
Não vejo o rei ser discutível. Jamais aparecerá outro Pelé no futebol mundial. Pode pintar até um igual, mas melhor, nunca. Essa é a minha opinião, sem nenhum menosprezo às qualidades do Cristiano Ronaldo. Um abraço do Jota.
Jota Moraes é paraense, jornalista e ex técnico de futebol. Atuou desde os 19 anos dirigindo times do Pará, Amazonas e Acre, tendo dividido campo com Pelé e outros craques da seleção brasileira. Hoje é aposentado, casado e entusiasta da internet. “Antes tarde do que nunca” é o seu lema. As opiniões expressas em sua coluna não necessariamente refletem as do Portal Esporte Manaus.