(Foto: Lucas Queiroz/Esporte Manaus)
Texto: Lucas Queiroz e Marcos Dantas
A Federação Amazonense de Futebol (FAF) promoveu um teste de protocolo e logística visando a possibilidade da liberação do público para o jogo decisivo no próximo sábado (22), entre Manaus FC e São Raimundo, valendo o título do Barezão, na Arena da Amazônia. Nas arquibancadas, foram liberadas 120 pulseiras de acesso a cada um dos clubes, que distribuíram as entradas para atletas, comissão técnica, equipe de apoio e convidados no jogo de ida final.
A quantidade estabelecida antes da decisão era de, no máximo, 70 acessos. Durante o jogo, a recomendação passada pelos funcionários da entidade foi de manutenção da distância de duas cadeiras entre os convidados, além do uso permanente de máscara. Antes do jogo, o diretor de competições da base da FAF, Thiago Durante, deixou claro que as pessoas presentes estavam participando de um teste de protocolo, recomendando o respeito às normas estebelecidas. O momento foi registrado pela jornalista Larissa Balieiro, da Rádio Difusora.
No decorrer da última semana, representantes dos clubes finalistas, FAF e Governo se reuniram para debater a liberação de 4 mil pessoas para o segundo jogo da final, visto que não haveria tempo hábil para liberar torcida também para o primeiro jogo. Nada foi definido na primeira conversa, segundo a Federação, contudo, a imprensa foi convocada a comparecer a uma reunião que comunicará o desfecho da situação na próxima terça-feira (18). Com a sinalização positiva do primeiro encontro, a tendência é que de fato a liberação aconteça.
A tese ganhou ainda mais força após o prefeito de Manaus, David Almeida, revogar um decreto que suspendia a concessão de licenças para eventos com cobrança de ingresso na capital amazonense. A medida havia sido publicada no último dia 10 e teria validade até o próximo dia 17, sendo um impeditivo para a realização da partida com público, porém, acabou sendo suspensa com apenas três dias, por meio de publicação no Diário Oficial de Manaus, na edição da última quarta-feira (12).
Infectologista reprova e alterta para terceira onda
A médica infectologista Ana Galdina Mendes, que atua como Coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Fundação Hemoam, e que tem 17 anos de carreira, conversou com o Portal Esporte Manaus e foi categórica: realizar uma partida de futebol com público, na atual conjuntura de Manaus, é precipitado.
Ela destaca que o protocolo que deve ser adotado até oferece certa segurança para quem vai ao estádio, mas que existem outros fatores, como a taxa e transmissibilidade do coronavírus e a circulação viral, que devem ser ponderados e que são fortes o suficiente para que a partida do próximo sábado seja realizada com portões fechados.
“Pelo que foi falado, serão utilizados 10% da capacidade da Arena da Amazônia, o que realmente é bem abaixo. A ideia é que se faça num ambiente aberto, e hoje a gente sabe que a ventilação é algo fundamental na garantia da segurança. A princípio, com essa quantidade de pessoas proposta, nesse ambiente, temos alguma segurança, mas é preciso olhar além, porque nesse momento ainda temos circulação viral e ainda estamos em alerta para o que pode ser uma terceira onda da doença. Isso é real, essa possibilidade ainda existe. Por mais que o ambiente ofereça certa segurança, considerando que ainda estamos num cenário de circulação viral e que ainda não atingimos uma meta de população vacinada, que seria em torno de 60% da população, então esse não seria um evento adequado. Seria precoce realizá-lo. Por mais que essa proposta pareça oferecer segurança para quem vai ao estádio, temos que entender que Manaus ainda tem uma alta taxa de transmissibilidade do vírus. Atualmente, 100 pessoas contaminadas conseguem contaminar entre 91 e 92 pessoas o que facilita o cultivo de uma nova variante”, alertou.
Mostramos à infectologista um vídeo feito por um torcedor na final da Libertadores, o único jogo oficial em território brasileiro que teve presença de público desde o início da pandemia no país. Na ocasião, o protocolo da Conmebol foi bastante criticado, principalmente pelo fato de os sete mil torcedores convidados terem ocupado 10% da capacidade do Maracanã, mas em um único setor do estádio, diferente do que foi feito no Mundial de Clubes, no Catar, onde a capacidade dos estádios também era reduzida, mas com um distanciamento considerável sendo respeitado.
“Dando uma olhada no vídeo, é possível ver muito o que não fazer. Tem aglomeração antes da entrada no estádio, o que significa que seria preciso fazer um isolamento da área para que as pessoas não chegassem até o portão. Aqui dentro da nossa realidade também temos os vendedores ambulantes, que com a aglomeração de pessoas aproveitariam a oportunidade para oferecer seus serviços. Para o acesso, talvez uma boa estratégia seria estratificar os horários para que as pessoas não chegassem ao mesmo tempo. Lá dentro, na final da Libertadores, os torcedores ficaram concentrados num único local. Isso é impensável, porque não houve nenhum tipo de distanciamento, e aí é óbvio que o torcedor tira a máscara. Imagina várias pessoas falando e torcendo ao mesmo tempo. Aquele ambiente fica cheio de aerossóis. Torcedor é torcedor, na hora de vibrar ele se desarma. Ao tirar a máscara, ele pode infectar alguém sem saber que está contaminado. Então temos que considerar todos esses fatores. No vídeo, também vi crianças, que são um grupo que está fora da possibilidade de vacinação neste momento e que estão passíveis de adoecimento”, destacou.
A notícia de que os clubes estavam organizando um movimento para levar público à final, que ganhou força no início do mata-mata do Campeonato Amazonense, dividiu os torcedores. Alguns acreditam que ainda não é o momento, enquanto outros citam as flexibilizações em outros setores da sociedade para, de alguma forma, justificar a presença de torcida na decisão.
“Quando o torcedor fala ‘o ônibus está lotado, os restaurantes estão funcionando, os bares também’, temos que lembrar que essas flexibilizações aconteceram, em parte, porque a sociedade não poderia ficar parada eternamente. De fato o ônibus deveria oferecer mais segurança para as pessoas poderem circular, porque quem está ali dentro não tem opção, precisa trabalhar. Shoppings, restaurantes e bares, por exemplo, muitas vezes são uma questão de opção, você decide se vai ou não, de acordo com a sua fragilidade para doença, assim como o futebol, só que um público de quatro ou cinco mil pessoas num estádio é mais difícil de administrar do que um de 50 num restaurante, por exemplo”, ponderou a especialista.
Outros torcedores sugeriram também uma espécie de triagem através de testes rápidos. Para Ana Galdina Mendes, mesmo com o que há de melhor em relação a testes atualmente, é muito improvável zerar ou diminuir consideravelmente a possibilidade de contaminação.
“Existem dois tipos de teste, um deles o sorológico, aquele de sangue, que só me diz se eu já tive a doença. Hoje, se eu considerar que grande parte da população de Manaus, em algum momento, já entrou em contato com o vírus, o teste rápido não me diz nada num evento como esse. Para o jogo, seria necessário realizar uma pesquisa de antígenos, que é aquele teste do nariz, mas mesmo ele tem um tempo que é necessário para evitar resultados falsos. Ele só dá positivo a partir do segundo ou terceiro dia após o início dos sintomas, e antes disso o indivíduo já tem transmissibilidade e prolifera o vírus sem saber que está doente. Pode ser que uma pessoa infectada faça o teste do nariz e o resultado seja um falso negativo. Se for para pensar em triagem, seria preciso exigir, no mínimo, o teste de antígenos, a vacina, como já feito na Dinamarca, e descartar a exposição de população vulnerável que a vacina não atinge, como crianças, por exemplo”, sugere a infectologista.
Coronavírus no Amazonas
Casos no Amazonas: 378.645 (12.824 mortes)
Casos em Manaus: 173.453 (8.896 mortes)
Casos nas últimas 24 horas: 507 (16 mortes)
Dados de 15/05/2021: FVS-AM
Vacina
Total de vacinados no Amazonas: 1.036.869
Primeira dose: 655.624
Segunda dose: 381.245
Dados de 15/05/2021: FVS-AM