Frustrado, Piza faz balanço da campanha e avalia não classificação: “Não pode cair na minha conta”
Treinador acredita que caso não tivesse o trabalho interrompido na 12ª rodada, o Manaus poderia chegar vivo pela vaga na segunda fase da Série C
Sem chances de classificação à segunda fase da Série C do Campeonato Brasileiro, o Manaus se reapresentou na última terça-feira (9) abrindo aquela que deve ser a última semana de trabalho em 2022, visto que a CBF ainda não se posicionou oficialmente sobre a realização da Copa Verde. Livre de qualquer possibilidade também de rebaixamento, o Gavião cumpre tabela contra o líder Mirassol, no próximo sábado (13), na Arena.
Em tom de desabafo, o técnico Evaristo Piza analisou friamente a participação do clube na competição e foi franco em diversos temas. As aspirações da equipe para a última rodada da competição são focadas em terminar na melhor posição possível. Porém, o comandante espera que os jogadores se esforcem para terminar a campanha de maneira digna. Ele aproveitou para adiantar que ele, sua comissão e o gerente de futebol não permanecerão, por ora.
“Falei agora na reapresentação, que estou aqui nesse último jogo pela dignidade e por ser a vidraça, pra ser cobrado, xingado, como vem acontecendo. O mínimo que eu pedi pra eles em retribuição é que eles coloquem o espírito e corram, porque a partir de domingo, eu, Igor (Melo, preparador físico), Ivan (Médici, auxiliar técnico) e o Renan Mobarack (executivo de futebol), a gente tá desempregado, então já poderia ir embora hoje. Mas por respeito ao presidente, ao clube, ao grupo que permaneceu, achei digno fazermos esse último jogo. Espero que eles entendam, estou muito frustrado de não ter conseguido o objetivo da classificação, eu vim nessa perspectiva, tinha essa possibilidade. Infelizmente, a gente não conseguiu a vitória na minha reestreia contra o Botafogo, e tivemos uma atuação vexatória no domingo, eu assumo essa responsabilidade”, disse.
Demitido na 12ª rodada após um revés para Botafogo-SP e recontratado três rodadas depois para o lugar de João Brigatti, Piza acredita que caso mantivesse a média e não tivesse o trabalho interrompido àquela altura, hoje a equipe poderia estar numa situação melhor, brigando diretamente por uma vaga no G8. Sincero, ele afirmou que as decisões da direção influenciaram diretamente no resultado atual.
“Mas o que acarretou a não classificação do Manaus não pode cair na minha conta […] A gente escuta um monte de “papagaiada”, uns papos furados, sem fundamento, onde que os quatro pontos que o Brigatti fez – e eu elogiei numa entrevista minha -, livrou do rebaixamento. O que livrou foi os números que fizemos de início, a melhor campanha de largada do clube na Série C, num campeonato de uma dificuldade muito grande, não é simples essa competição de pontos corridos, jogando contra todos do outro grupo, camisas tradicionais, de história, onde tem equipes que tem investimento quatro vezes maior que o nosso”, destacou.
“Eu vim de coração limpo, tô na paz, sempre profissional, sempre trabalhando. Como falei, eu poderia estar em casa agora. A equipe não conseguiu o objetivo, se manteve na Série C, deixei onde a gente pegou, não era isso que estava planejado, mas interromperam um planejamento. Os jogadores e a diretoria sabem das minhas metas, falei que a cada 12 pontos, faríamos 7 e estaríamos classificados, com 28, faltando três rodadas. Houve um erro, o erro não é do Piza, o erro é de quem tirou o Piza”, afirmou.
Na atual temporada, o treinador conviveu com a impaciência da torcida esmeraldina, que em diversas oportunidades vaiou e xingou o time, cobrando resultados positivos, principalmente jogando em casa, onde em dado momento, amargou uma sequência de quatro empates seguidos. Piza encara com naturalidade a dificuldade da competição e pontuou que o apoio incondicional deve vir das arquibancadas nas próximas temporadas, além de um entendimento mais claro do contexto do clube na disputa.
“O Manaus tem que entrar numa competição dessa com o primeiro objetivo de não cair, e a gente não pensou nisso, potencializou, e a torcida ficou mal acostumada a ter sequência boas. Na dor da derrota, no sofrimento, ninguém presta, tá tudo errado, afunda pra baixo. O verdadeiro torcedor é aquele que na hora da dor aparece. E ano que vem a dificuldade não vai ser diferente, dependendo de quem vem das outras divisões. O campeonato tá se tornando extremamente competitivo. O Fortaleza passou oito anos pra subir, o Botafogo tá há dez anos e perdeu dois acessos, um comigo e um com o Itamar Schulle. Não é simples. Então, essa paciência tem que ser construída no clube, na diretoria, nos torcedores, nas páginas, de tentar trazer pra cima, ser realista. Acredito que é pés no chão, se organizar, entrar pensando na pontuação para não cair, buscar a classificação e depois o acesso. Um passo de cada vez”.
A goleada por 5 a 0 sofrida para o Ypiranga-RS enterrou qualquer possibilidade de classificação do Manaus à segunda fase. Pelas circunstâncias, Piza trouxe o jogo do acesso contra o Novorizontino em 2021 para uma comparação, afirmando que o revés em Erechim foi mais duro para ele. O treinador revelou também que ao acertar o retorno há algumas semanas, não tratou da parte financeira com o clube, pois estava empenhado em ajudar novamente.
“Esse jogo doeu mais do que a perda do acesso, pelo comportamento da equipe, me machucou mais. Pela postura, não entendi o que aconteceu, tomamos um gol muito cedo, nos abatemos e não tivemos força de reação. Mas não dá o direito de as pessoa te ofenderem, te humilharem, sou um pai de família. Não sei nem quanto eu vou ganhar, quando o Giovanni me ligou, nem tratamos sobre salário, ele só me pediu pra viajar. Não vim por dinheiro, vim por carinho ao grupo, ao clube e ao presidente”, lamentou.
Garantido na Série C de 2023, a quarta consecutiva na história do clube, o Manaus terá tempo para pensar nos próximos passos e reavaliar as decisões. Antes de fechar 2022, o jogo contra o Mirassol marca a despedida do treinador na segunda passagem. O adversário chega como líder geral da classificação, brigando diretamente com o Paysandu, ambos com 33 pontos, e o Gavião pode influenciar diretamente na vida dos paulistas.
“Agora é um jogo dificílimo, o Mirassol vem pra ser líder da classificação geral, para ter os benefícios da primeira colocação. Tem uma folha altíssima, vem qualificando o elenco, os jogadores não param de chegar. Vamos ter que fazer frente a eles, brigar forte no jogo. Pedi para eles que quero que tenham espírito e sejam competitivos. Se a gente correr, a chance é grande de dificultar para o adversário. Não podemos entrar num jogo desse sem transpirar, se não seremos presa fácil. Que a gente encerre com dignidade nesse jogo, mesmo estando fora das chances de classificação”, concluiu o comandante.