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Primeira mulher a apitar no Barezão fala de emoção e sonha grande: “Quero chegar ao topo”

(Foto: João Normando/FAF)

Texto: Lucas Queiroz e Marcos Dantas

A partida da 8ª rodada do Campeonato Amazonense de 2021 entre Clipper e Iranduba, realizada no último dia 7 de abril, entrou para a história não só por ter sido uma das maiores goleadas do estadual em todos os tempos (10 a 2), mas também por outro fato relevante: pela primeira vez, em um torneio masculino organizado pela Federação Amazonense de Futebol (FAF), três mulheres trabalharam juntas num jogo. 

A árbitra principal Elivane Trindade da Costa foi auxiliada pelas assistentes Anne Kesy Gomes de Sá e Eliane Nogueira dos Santos. O trio conduziu a partida tranquilamente, de maneira segura e causou boa impressão. Em entrevista ao Portal Esporte Manaus, Elivane externou a sensação da realização e fez uma série de agradecimentos pelo feito, reforçando a importância do espaço aberto para que mais mulheres ingressem no mundo da arbitragem.

“Primeiramente, o sentimento que me define nesse momento é gratidão por ter participado dessa partida, desse momento histórico. Agradeço à comissão de arbitragem por ter colocado esse voto de confiança em mim, no meu profissionalismo, por estar colocando o nome das mulheres na história do futebol amazonense, na história da arbitragem. Esse é um momento muito importante para nós mulheres que lutamos por causas tão importantes há anos. Estamos evoluindo, conquistando nosso espaço, estamos traçando uma nova jornada. Agradecer ao professor Vladimir [Bastos], presidente da comissão, pelo voto de confiança para dirigir uma partida com as minhas assistentes Anne e Eliane, e outras assistentes, Noélia, Adriana, que temos aqui no estado, representando o feminismo na arbitragem”, disse.

Elivane em ação em Clipper x Iranduba (Foto: João Normando/FAF)

Antes de ser escalada para a partida entre Clipper e Iranduba, Elivane havia trabalhado em apenas um jogo do Barezão 2021, como quarta árbitra, na vitória da Águia Dourada sobre o Nacional por 1 a 0, na 4ª rodada. Questionada sobre a expectativa para a partida no dia anterior, ela explicou que só teve noção do fato após o término.

“A parte emocional foi bem administrada, teve um pouco de ansiedade, a emoção maior foi no pós-jogo quando caiu a ficha: ‘putz, tô na história’, e aí a adrenalina foi mais alta. Sabia da importância do jogo e consegui administrar”, relatou.

Ela ressaltou a importância da intensidade aplicada na preparação para as mulheres se sobressaírem em um meio predominantemente masculino.

“As mulheres estão tomando de conta de muita coisa, graças a Deus, e estamos mostrando competência para “segurar o cajado”. Agora é só trabalhar para conseguir cada vez mais evoluir e dar conta do recado. O futebol é um meio 90% masculino. Temos que trabalhar duro, porque sabemos que para as mulheres tudo é mais difícil, desde a parte física, que tem que ser trabalhada dobrado para conseguir manter o equilíbrio no jogo”, declarou.

Natural de Monte Alegre, no Pará, Elivane mora em Manaus desde 2006, é formada em serviço social e trabalha como policial militar, além de integrar o quadro de arbitragem da FAF há oito anos. Ela conta que iniciou na arbitragem de forma despretensiosa.

“Por amor ao futebol, atuo desde 2013, quando formei na arbitragem. A carreira na arbitragem começou graças a um amigo chamado Geraldo Gomes Vieira, que me incentivou, me levou na Federação para fazer o curso. Após insistência, comecei a bandeirar jogos de categorias de base e me envolvi de vez com o futebol. Quando saiu a escala desse jogo [no qual foi escalada como árbitra principal], recebi muitas mensagens de apoio, foi muito gostoso”.

O trio da partida histórica foi formado por: Eliane Nogueira dos Santos (à esq.), Elivane Trindade da Costa (centro) e Anne Kesy Gomes de Sá (à dir.) (Foto: João Normando/FAF)

A árbitra de 32 anos, “amazonense de coração”, compartilha sonhos com o marido, o assistente Abson Pantoja de Barros, presença frequente nos jogos do estadual. Em 2020, ela já apitou partidas do Brasileirão Feminino, mas ainda quer mais, e ainda projeta outros passos na carreira.

“A gente sempre sonha com o topo, quem disser que não sonha, está sendo hipócrita. Eu era árbitra assistente, e com a indicação da comissão de arbitragem este ano me tornei do quadro da CBF e já vinha apitando jogos do Campeonato Brasileiro feminino. Vamos correndo atrás e seguir trilhando o caminho que é chegar à Série A do masculino, que é um sonho e depois, quem sabe, um FIFA”, finalizou.

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