(Foto: Divulgação)
Que o Campeonato Amazonense de 2022 é um dos mais esperados dos últimos anos já está bem claro para os amantes do futebol baré. Mas além de ter equipes com fortes elencos, estrelas que já brilharam em grandes clubes brasileiros e um regulamento que rebaixará quatro times, o Estadual deste ano também ganha destaque por ter jogadores estrangeiros nascidos em outros continentes, como é o caso dos quatro camaroneses, Prosper Koffi, Arnold Kamdem, Faffa Hissendjy e Issa Koné.
Se você nunca ouviu falar em nenhum desses jogadores, não sabe qual time amazonense cada um deles vai defender e está curioso para conhecer suas histórias, você está no lugar certo. O Portal Esporte Manaus traz uma série de quatro reportagens sobre cada um dos camaroneses que brigarão pelo título do Barezão 2022 com suas equipes, e a quarta e última reportagem é sobre o atacante do Iranduba, Fafa Hissendjy.
Futebol no sangue da família
Fafa Hissendjy Efon nasceu em 2 de agosto de 1996 na cidade de Iaundé, capital do Camarões. E o futebol esteve em seu caminho antes mesmo de vir ao mundo, se fazendo presente na rotina da família, a mãe tinha o esporte como lazer e os tios chegaram a jogar profissionalmente. Um deles era especial para Fafa, Aneck Efona, que participou diretamente da criação do menino junto com a mãe e a avó, e na ausência de um pai biológico, tornou-se a figura paterna de Fafa.
“Meu pai foi jogador da seleção de Camarões, foi à Europa, então eu acompanhava na minha infância. Minha mãe também jogava bola de vez em quando, meus tios eram jogadores, então acho que é genética, tá no sangue. Costumo dizer que eu sou apenas herdeiro”, disse.
Naturalmente, o garoto se interessou pela bola e começou a trilhar os caminhos dos parentes na escolinha Green City, mas encontrava resistência da avó, que cobrava dedicação exclusiva aos estudos. Fafa deixou a escolinha e começou a jogar num clube local aos 15 anos. Chamando a atenção, logo depois veio o convite do Eding Sport, onde o jovem assinou o primeiro contrato profissional e foi campeão nacional, ajudando no acesso do clube à segunda divisão profissional.
O destaque rendeu as primeiras convocações para a Seleção sub-20 de Camarões. Ainda vestindo a camisa do Eding, o atacante conquistou mais um acesso com o clube, desta vez para a elite do futebol local. Nesse meio tempo, Fafa acabou impactado com a morte do pai de consideração, Aneck Efona, em 2014. Mesmo sem a presença física do familiar, ele conta que leva consigo um ensinamento que ouviu mais jovem, para toda a vida.
“As dificuldades que eu tive no início da carreira era a vontade da minha avó, que me criou, ela dizia que o futebol não era um meio tão certo e eu devia só estudar. Logo depois meu pai faleceu e foi um momento muito difícil pra mim, superar essa ausência dele foi complicado, mas eu lembro do que ele falava pra mim que eu tinha que ser melhor do que ele, e quando eu fosse, ele iria ficar feliz, então peguei essa palavra dele para o meu dia-a-dia”, afirmou.
Vinda ao Brasil e saída repentina
Em 2016, pintou a chance de vir ao Brasil, por intermédio de um empresário. As portas se abriram no Andraus, do Paraná, mesmo clube onde seu conterrâneo Issa Koné também atuou ao pisar em solo brasileiro. Por lá, Fafa jogou a segunda divisão paranaense, mas a estadia no Brasil durou pouco. Por fatores que não entrou em detalhes, o atacante retornou ao seu país natal para atuar em outra equipe local, o Dragon, mas na temporada seguinte retornou ao Eding, onde havia jogado anteriormente e considera como casa.
Na sequência da carreira, Fafa recebeu uma proposta e assinou um pré-contrato com o Mansoura, do Egito. Animado para conhecer uma nova cultura e mudar de ares novamente, ele acabou sofrendo uma lesão e tendo que parar as atividades por um tempo. Já recuperado e pronto para voltar a jogar, veio a pandemia de covid-19 no início de 2020.
Com o retorno do futebol após o pico da pandemia, o mesmo empresário que o trouxe ao Brasil em 2016, o procurou para oferecer uma nova chance no país em 2021. Fafa se animou e topou, porém, nem tudo saiu como planejado.
“Acertei com o Assu para jogar o Potiguar, mas tive um problema na documentação da transferência e também a janela estava fechada. Daí acertei com o Pacajus, do Ceará, fiquei treinando e tive o mesmo problema anterior na transferência”, lamentou.
Chegada ao Rio Branco e taça na mão
Já no segundo semestre, o camaronês conseguiu aparar os empecilhos e enfim entrou em campo. Com a camisa do Rio Branco, Fafa atuou em sete partidas, marcou um gol de pênalti e acabou campeão do Campeonato Acreano de 2021 com o Estrelão, tendo como companheiros outros atletas com passagens pelo futebol amazonense: o zagueiro Martony, ex-Manaus, os meias Marcelinho, ex-Fast, e Gabriel Ceará, ex-Iranduba, além do atacante Caíque, ex-Clipper.
“Quando pintou a oportunidade do Rio Branco, fomos campeões acreanos e eu voltei a jogar em bom nível entre os profissionais”, comemora.
Novo projeto do Iranduba e sonho de voltar à Seleção
Para 2022, Fafa se colocou no mercado e recebeu um contato dos diretores do Iranduba, que receberam a sugestão de um olheiro. Não demorou muito para que o acordo fosse fechado. De acordo com o camaronês, a conversa com a cúpula do clube o surpreendeu e ele ficou muito animado para defender o clube no próximo Campeonato Amazonense.
“O olheiro me ligou e disse que estava conversando com o pessoal do Iranduba, tinha mandado meu material e eles iriam entrar em contato comigo. Stênio falou o que eu encontraria aqui, sobre o projeto do Iranduba, falei também com o diretor executivo Victor Mello e o técnico Michel, foi uma conversa muito boa, diferente do jeito dos outros clubes, porque eles tocaram no valor humano que a pessoa tem, e isso me tocou. Eu topei, quero crescer mais no dia-a-dia, aceitei esse desafio”, ressaltou.
Em fase de ambientação no novo clube e no novo estado, Fafa rasgou elogios ao técnico Michel Lima, que também vai estrear no futebol amazonense, aos colegas de equipe e à diretoria, que segundo ele, não mede esforços para oferecer boas condições de trabalho ao grupo. Fafa enxerga um elenco comprometido e apesar da dificuldade da competição, garante que o Hulk vai surpreender. A equipe estreia na próxima quarta-feira (26) contra o Princesa do Solimões, em Manacapuru, às 15h30 (de Manaus).
“A preparação está muito legal, não tivemos muitos dias, mas pelo pouco tempo que temos aqui, estamos trabalhando bem, no caminho certo. O amanhã só a Deus pertence. O Iranduba hoje tem jogadores com muita qualidade, muita vontade, que querem vencer na vida, fazer o nome. Temos a sorte de ter uma comissão técnica muito esperta, com o professor Michel no comando, que é muito bom treinador. Vendo também o esforço da diretoria, nos dá força, dá vontade de retribuir e entregar o máximo. O Iranduba chega para bater de frente”, disse.
Hoje aos 25 anos de idade e trilhando o caminho no futebol brasileiro, Fafa ainda tem o sonho de voltar a vestir a camisa da Seleção de Camarões numa competição oficial.
“Hoje tenho o sonho de voltar à Seleção, já fui convocado várias vezes. Estava pensando em deixar o futebol, mas meu tio me incentivou, disse que eu ainda era jovem e tinha como brigar. Então hoje esse é o sonho, fazer sempre melhor que antes. Como todo jogador, meu sonho é representar meu país em alguma competição internacional e cantar o hino magnífico de Camarões”, finalizou.